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O Corvo Criativo e o Corvo Oportunista

  • Foto do escritor: Ines P Antunes
    Ines P Antunes
  • 11 de mar. de 2016
  • 3 min de leitura

| Imagem I-Lustre Atelier |

Estava eu à espera do autocarro para vir para casa quando me deparei com uma situação caricata entre dois corvos, situação essa que me deixou a pensar como os seres humanos não se distanciam assim tanto dos restantes seres vivos... Mas vamos começar pelo ínicio. Aqui por Inglaterra tem estado muito frio. Um frio mais do que chato e caótico. Um frio que faz as mãos doer e arrepia até o dedo mindinho do pé! Estava eu a vir das compras e ali fiquei parada, na rua, ao frio, e o mais encolhida que pude - "técnica pinguim" que visa promover o aquecimento corporal - à espera do autocarro. Enquanto olhava para o fim da rua na esperança de ver o transporte público que me ajudaria a chegar a casa, reparo num lindo corvo a pousar perto de uma caixa de reciclagem (sim, disse bem - caixa de reciclagem! Aqui em Inglaterra as coisas funcionam de maneira um pouco diferente. Todos os apartamentos têm direito a três caixas de reciclagem, cada uma para um conjunto de matérias diferentes, que são recolhidas semanalmente pelos senhores responsáveis por esse serviço para os devidos locais de tratamento de residuos). Onde é que eu ia?! ah!... na estória! A estória do corvo criativo e do corpo oportunista. Num dia frio, em Inglaterra, estava eu à espera de um autocarro para poder regressar a casa quando vejo ao longe um lindo corvo pousar perto de uma caixa de reciclagem. Ele parou, olhou, saltou e dançou em volta da caixa até que encontrou algo que lhe interessou. Voltou a saltar, pular e dançar e subiu à caixa. Abriu as asas para se equilibrar, balançou sobre a caixa, endireitou o corpo e fechou as asas, voltou a balançar - qual sempre em pé - e baixou o corpo para chegar com o bico aonde queria. Depois de tanta manobra de equilíbrio, lá desceu de novo ao chão. Tinha no bico um saco de papel de uma conhecida marca de fast food. Era um corvo saudável aquele... Deslocou-se, com o saco de papel no bico, para longe da caixa; foi então que começou a tentar desembrulhá-lo com o seu magestoso bico: mexeu, remexeu, arremessou, voltou a mexer, movimentou de um lado para outro... E no meio de tanto mexe e remexe nem deu conta de que outro corvo se havia aproximado. Aproximou-se a esvoaçar um corvo curioso. Não pelo meio que o rodeia mas pela ação de outro corvo; corvo esse que bicava e movia impacientemente um saco de papel de uma qualquer cadeia de fast food. Olhou, intrigado. Tentou mover-se para observá-lo mais de perto... depois, percebendo o que o outro corvo fazia, tentou aproximar-se para, também ele, ter um tempo com o saco de papel. Mas já o corvo curioso havia dado conta das suas tentativas e apressado, moveu o corpo alargando as asas para mostrar poder, força e bravura! O corpo oportunista não teve coragem de se aproximar mais do corvo curioso. Ao invés disso, olhou-o mais umas quantas vezes, como quem quer aprender... mas saltou para a mesma caixa de reciclagem olhando para o seu interior com desdém, e para a imagem do corvo curioso a virar e revirar o saco de papel.

No fim de tal jornada, o corvo oportunista voou desistindo da caixa de reciclagem... Enquanto que o meu autocarro chegou e eu apanhei o transporte público pelo qual tanto ansiava em direção a casa - com a sensação vaga de quem estuda sociológicamente a vida de dois humildes corvos. E quanto ao corvo criativo? Ah! Esse voou, levando consigo o saco de papel de uma qualquer cadeia de fast food! P.S. - identificam-se com esta estória, criativos? Somos afinal, nós humanos, tão diferentes na nossa forma de atuação em sociedade dos nossos amigos corvos? Com Amor,

Ines xx

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    © 2016 por Ines P. Antunes, autora do blog "Era Uma Vez, Uma Ines"

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